Ambiências digitais como lugares de visibilidade/invisibilidade das organizações na gestão das crises / Digital environments as places of visibility/invisibility for organizations in crisis management

Autores/as

  • Cleusa Maria Andrade Scroferneker Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
  • Diego Silva PUCRS
  • Lidiane Amorim PUCRS
  • Rosângela Florczak de Oliveira ESPM-POA

DOI:

https://doi.org/10.5783/revrrpp.v11i21.704

Palabras clave:

comunicação organizacional, gestão de crise, ambiências digitais, diálogo dialógico

Resumen

No presente artigo discutimos sobre o processo de gestão de crise nas organizações e o respectivo ‘lugar/não-lugar’ da comunicação nesse contexto, considerando que as ambiências digitais (re) definem as relações nos/dos espaços organizacionais e que nestes espaços as organizações transitam entre estratégias de visibilidade e de invisibilidade. Recorremos, no espaço teórico, ao pensamento complexo (Morin, 2008, 2015), articulando, entre os autores, as contribuições de Augé (2017), Bauman (2016), Forni (2013) e Wolton (2010). Em termos empíricos, partimos da observação de duas crises ocorridas no Brasil envolvendo a Mineradora Vale S.A. (Brumadinho e Mariana). As dimensões qualitativa e exploratória (Gil, 2021) caracterizam a natureza do trabalho. Os resultados indicam que há uma (des/re) territorialização na/da comunicação nessas ambiências, ao longo desses acontecimentos, potencializando não-lugares (Augé, 2017) e a ausência de diálogos. Conforme ressalta Santaella (2010), ambiências digitais, como as mídias sociais, incrementam sobremaneira as relações coletivas que fundamentam as organizações, propõem agenciamentos e hibridações, territorialidades fluidas e ‘sublevações temporárias’, marchas deslocativas pelas diferenças, “para comunicar outras visões e ideias que as ideologias exclusivas e as verdades absolutas, fechadas sobre si mesmas como as cidades muradas, não contém” (Santaella, 2010: 280). Por outro lado, esse mesmo fascínio diante dessa realidade midiatizada, por vezes ofuscam movimentos de invisibilidade, silenciamento, ocultação e esvaziamento de relações e interações. Os casos da Vale S.A. também evidenciam a diluição de fronteiras e territórios comunicacionais, que fazem com que os desdobramentos das crises transbordem os locais geográficos nos quais os eventos críticos acontecem. Se a era digital tem como um de seus traços a ubiquidade (Santaella, 2010), acreditamos que os efeitos das crises também se tornam ‘ubíquos’, ou seja, estão por toda a parte e reconfiguram por completo as noções de impacto e alcance. Nesse contexto, as tentativas de invisibilizar aspectos da crise tornam-se insuficientes.

Palavras-chave: comunicação organizacional; gestão de crise; ambiências digitais; diálogo dialógico.

Abstract

The digital environments (re) defines the relationships in/of organizational spaces. We realize that in these spaces as associations they move between visibility and invisibility strategy, considering opportunities and risks that involve them recursively. In this scenario, we discuss possible places/non-places for organizational communication in digital environments and reflect on the crisis management process in associations and the respective 'place' of communication. We start from the assumption that the associations are immersed in a scenario of uncertainty (Morin, 2008) and hypervisibility in which the ordinary daily life becomes, increasingly, transparent and absent of borders for the social environment. With this, the critical hypothesis, which are conventionally called ‘crisis’, become the new common (Bauman, 2016). And it is precisely in times of crisis that communication gains centrality, because “without effective, transparent, timely communication, it becomes much more difficult to control the crisis” (Forni, 2013: 289). We resort to complex thinking (Morin, 2008) and, in empirical terms, to the observation of two crisis that occurred in Brazil involving a mining company, Vale S.A. (Brumadinho and Mariana). To reflect on the (non) place of communication in crisis situations, in the light of the analysis of the cases mentioned, we are anchored in the anthropological conception of place and not place proposed by Augé (2010, 2012). The results indicate that there is a (de/re) territorialization in/of communication in these environments, over the course of events, potentiating non-places (Augé, 2017) and the absence of dialogues. There is a potential for hierarchical communication to give rise to dialogical dialogue (Sennett, 2012), which is not always understood, comfortable and experienced by organizations. Such scenarios, fluid and accelerated, demand openness to horizontal and more egalitarian communication to the detriment of hierarchical, vertical, centralized and centralizing communication. As Santaella (2010) points out, digital environments, such as social media, greatly increase the collective relationships that underlie organizations, propose agency and hybridization, fluid territorialities and 'temporary upheavals', displacement marches through differences, “to communicate other visions and ideas that exclusive ideologies and absolute truths, closed in on themselves like walled cities, do not contain” (Santaella, 2010: 280). On the other hand, that same fascination and seduction in the face of the possibilities arising from this mediatized reality, sometimes overshadow movements of invisibility, silencing and emptying of relationships and interactions. Vale S.A.'s cases also show the dilution of borders and communicational territories, in the midst of mediatized contexts, which cause the unfolding of crises to overflow the geographic locations where critical events take place. If the digital age has ubiquity as one of its features, in which borders between private and public life, between inside and outside, between here and there (Santaella, 2010), we believe that the effects of crisis also become 'ubiquitous', that is, they are everywhere and completely reconfigure the notions of impact and reach. In this context, attempts to make aspects of the crisis invisible become insufficient. The qualitative and exploratory dimensions (Gil, 2021) characterize the nature of the work. The theoretical review was developed from the dialogue between authors such as Augé (2017), Bauman (2016), Morin (2015), Forni (2013) and Wolton (2010), among others.

Keywords: organizational communication; digital environments; dialogical dialogue; crisis management.

 

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Cleusa Maria Andrade Scroferneker, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Professora Titular da Escola de Comunicação, Artes e Design - Famecos e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCOM), na PUCRS. Brasil.

Citas

AUGÉ, M. (2017). Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, São Paulo: Papirus.

AUGÉ, M. (2012). Para onde foi o futuro? Campinas, São Paulo: Papirus.

AUGÉ, M. (2010). Por uma antropologia da mobilidade. Maceió: Editora Unesp/UFAL.

BAUMAN, Z., & BORDONI, C. (2016). Estado de crise. Rio de Janeiro: Zahar.

CAPRA, F. (2005). As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix.

CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS (2019). Relatório da missão emergencial a Brumadinho/MG após rompimento da Barragem da Vale S/A. Brasília. Recuperado de https://bit.ly/2UCx9rE

DA SILVA, D. W. & BALDISSERA, R. (2019). Comunicação organizacional e as estratégias de invisibilidade e de redução/direcionamento da visibilidade nas mídias sociais. Organicom, 16(31), 16-26. https://doi.org/10.11606/issn.2238-2593.organicom.2019.163239

D`AGOSTINO, R. (2015). Rompimento de barragem em Mariana: perguntas e respostas. Portal G1. Recuperado de http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/11/rompimento-de-barragens-em-mariana-perguntas-e-respostas.html

FACEBOOK (2020). Vale no Brasil [website]. Recuperado de https://www.facebook.com/valenobrasil/

FORNI, J. J. (2013). Gestão de crises e comunicação: o que gestores e profissionais de comunicação precisam saber para enfrentar crises corporativas. São Paulo: Atlas.

FRANÇA, V. V. (2001). Paradigmas da comunicação: conhecer o quê?. Revista do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual, (05). Recuperado de https://periodicos.uff.br/ciberlegenda/article/view/36784

GIL, A.C. (2021). Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas.

GOOGLE TRENDS (2020). Recuperado de https://trends.google.com/trends/

HJARVARD, S. (2015). Da mediação à midiatização: a institucionalização das novas mídias. Parágrafo, 3(2), 51-62. https://doaj.org/toc/2317-4919

LASTA, E. (2017). Estratégias sociotécnicas de visibilidade e legitimidade na comunicação organizacional em rede. Anais do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba. Recuperado de https://portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/R12-2846-1.pdf

LINKEDIN (2020). Perfil da Vale [website]. Recuperado de https://www.linkedin.com/company/vale/?originalSubdomain=br

MATURANA, H. R., & VARELA, F. J. (2001). A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena.

MORIN, E. (2019). Fraternidade: para resistir à crueldade do mundo. São Paulo: Palas Athena.

MORIN, E. (2015). Ensinar a viver: manifesto para mudar a educação. Porto Alegre: Sulina.

MORIN, E. (2008). O método 1: a natureza da natureza. Porto Alegre: Sulina.

MORIN, E., &, VIVERET, P. (2013). Como viver em tempo de crise? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

PASSARINHO, N. (2019). Tragédia em Brumadinho: as cinco lições ignoradas após tragédia de Mariana. BBC. Recuperado de https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47077083

SANTAELLA, L. (2010). A ecologia pluralista da comunicação: conectividade, mobilidade, ubiquidade. São Paulo: Paulus.

SENNETT, R. (2012). Os rituais, os prazeres e a política da cooperação. Rio de Janeiro: Record.

SILVA, J.M. da (2008). Apresentação. In Scroferneker, C. M. A., O diálogo possível: comunicação organizacional e o paradigma da complexidade (pp. 7-10). Porto Alegre: EdiPUCRS.

SODRÉ, M. (2010). Antropológica do espelho – uma teoria da comunicação linear e em Rede. Petrópolis: Vozes.

TRIVINHO, E.R. (2011). Visibilidade mediática, melancolia do único e violência invisível na cibercultura. Matrizes, 4(2), 111-125. https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v4i2p111-125

VALE (2020a). Sobre a Vale [website]. Recuperado de http://www.vale.com/PT/aboutvale/Paginas/default.aspx?gclid=CNG7zZyGmrQCFQf0nAodER0APA.

VALE (2020b). Balanço de recuperação - julho a setembro de 2020 [website]. Recuperado de http://www.vale.com/brasil/PT/aboutvale/servicos-para-comunidade/minas-gerais/atualizacoes_brumadinho/Paginas/balanco-reparacao.aspx/

VERÓN, E. (2014). Teoria da midiatização: uma perspectiva semioantropológica e algumas de suas consequências. Revista Matrizes. 8(1), 13-19. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v8i1p13-19

WOLTON, D. (2010). Informar não é comunicar. Porto Alegre: Sulina.

WOLTON, D. (2006). É preciso salvar a comunicação. São Paulo: Paulus.

YOUTUBE (2020). Perfil da Vale [website]. Recuperado de https://www.youtube.com/user/Vale

Descargas

Publicado

2021-06-25

Cómo citar

Andrade Scroferneker, C. M., Silva, D., Amorim, L., & de Oliveira, R. F. (2021). Ambiências digitais como lugares de visibilidade/invisibilidade das organizações na gestão das crises / Digital environments as places of visibility/invisibility for organizations in crisis management. Revista Internacional De Relaciones Públicas, 11(21), 207–226. https://doi.org/10.5783/revrrpp.v11i21.704